3 de julho de 2009

As pantufas cor-de-rosa

Ela deixava rastros; passos que eu seguia por todo o prédio escolar. Fingia não estar atrás, mas ela era esperta e me fez surpresa ao esperar na escada, sentada: -Está me seguindo né?!
Seu tom irônico me fez não dar muita importância, mas
envermelhei as faces. Continuei a subir, entrei na biblioteca e sentei em qualquer cadeira de qualquer mesa, para disfarçar.
No momento de mais pura distração, ouvi cochichos vindo em direção à porta. Tudo certo, até que ela aparece acompanhada da turma. Confesso que tive, por um segundo, medo. Me cuidei para não olhar demais.
Não vi ao certo a direção que ela seguia.
No meu ouvido senti uma voz aguda e, ainda assim, suave; mandava, era uma voz autoritária: "Me beija! Me beija!". Tentei ignorar, a vontade era grande mas pude controlar, simplesmente virando o rosto.
Depois de tanta resistência, desistência. Se afastou um pouco, chegou em meus ouvidos e: "Não tem problema, agora não temos que fugir." [Palavras de confiança; simples, mas que mudaram minha vida ou pelo menos meu jeito de ver os fatos.]
Deixou algo em minha agenda. Demorei um pouco pra perceber. Abri o pedaço de papel; nele estavam escritas as mais curtas e belas palavras de amor.
Dois ou três minutos mais tarde chegaram encomendas: duas sacolas pretas, uma de cartas e outra, não me lembro bem, creio que eram sapatos; sim, sapatos de várias cores e estilos. Não entendi o porquê, mas gostei das pantufas verdes com pintinhas cor-de-rosa.
Espalhei as cartas na mesa e comecei a virá-las uma por uma, como um daqueles jogos de memória. Cada uma era exclusivamente perfeita e com idéias impensáveis. Estava a ponto de máxima felicidade e prestes a realizar um dos mais puros desejos. Movimentei-me bruscamente e, por infelicidade da vida, acordei.

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Mariana Lopes

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