3 de fevereiro de 2010

Eterna casa de vovó

E por um momento fui sincera ao cair algumas das tantas outras lágrimas que já enchiam meus olhos.
[Lá fora, sem janelas ou portas que impedissem algum contato bizarro, notei como a vida acontece, no mais, como se vai embora também. Notei assim que tive certeza de que troquei o mate pelo café amargo.]

Pararam todos em mesma posição, e sem qualquer palavra - talvez alguns gemidos ou escarros - olhavam o corpo parado que não respirava nem se mostrava interessado em fazer tal movimento. E como num tilintar de escola, todos despertaram, menos [é claro] o indivíduo ali posto como quadro.
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Enquanto alguns seguiam lentos, outros esperavam sentados afim de não sofrerem o descanso alheio. E com caras um tanto tristes, caminhavam ainda, acompanhando o corpo-quadro que não falava, não gemia, não escarrava, mas que enfim pôde ter a paz da não-dor.
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De lá algumas fofocas um tanto altas, de cá um terço valorizado pelo gemido que não chegava a ser um choro, mas que era tão emocionante quanto. Alguns sussurros e nada mais.
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Serviço feito, último tijolo colocado.. cimentava bonito a última parede da, agora, eterna casa de vovó.

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Mariana Lopes